A família e a dinâmica de suas relaçoes no cuidado em saúde de transexuais

Abstract

A transexualidade pode ser considerada uma experiência identitária caracterizada pelo conflito com as normas de gênero. Estudos mostraram que a população trans enfrenta taxas significativamente altas de desemprego, discriminação no mundo do trabalho, situações de ausência de moradia e assédio em ambiente de trabalho. Essas experiências são revestidas de maior sofrimento e dificuldade quando são enfrentadas juntas à rejeição familiar, tornando necessário compreender as dinâmicas das relações familiares das pessoas trans e de seus familiares, no âmbito do cuidado em saúde. O objetivo desta pesquisa é compreender as construções de sentidos que emergem da dinâmica das relações familiares a partir das performances identitárias de pessoas transexuais em atendimento em um ambulatório direcionado exclusivamente para o cuidado em saúde integral de transexuais e travestis. Realizou-se uma etnografia com triangulação das fontes de dados (entrevistas semiestruturadas, grupo focal e observação participante) em um ambulatório especializado no cuidado trans-específico no Sistema Único de Saúde (SUS), entre dezembro/2017 a julho/2018. Conduziu-se 21 entrevistas, sendo 8 com homens trans, 8 com mulheres trans e 5 com familiares de pessoas trans atendidas nesse serviço; 1 grupo focal com 8 homens trans e aproximadamente 100h de observação participante. Apresentam-se os resultados e discussão a partir de 3 categorias temáticas denominadas (1) Concepções de Família; (2) Concepções de Identidade e (3) Concepções de Saúde. A análise levou em consideração como a diversidade de idade, a renda e a etnia, em cada contexto de vida trans, estabelecem diferenciais nos temas em estudo. Os significados de família, identidade e saúde estão interconectados, o que poderia justificar as relações já estabelecidas em outros estudos entre família e adoecimento das pessoas transexuais. O desafio para os serviços e profissionais de saúde está na legitimação desses significados como fundamentais para a clínica, a saúde e o bem-estar das pessoas das quais se almeja cuidar, para com isso alcançar um cuidado em saúde integral e equânime.

Palavras-chave: Família; Relações Familiares; Pessoas Transgênero; Saúde; Saúde Pública; Pesquisa Qualitativa.

ABSTRACT

Transsexuality can be considered an identity experience characterized by conflict with gender norms. Studies have shown that the trans population faces significantly higher rates of unemployment, discrimination in the workplace, homelessness and workplace harassment. These experiences are lived with greater suffering and difficulty when they are faced together with family rejection, making it necessary to understand the dynamics of family relationships of trans people and their families in the context of health care. The aim of this research is to understand the construction of meanings that emerge from the dynamics of family relationships from the identity performances of transsexual people that are being taken care of in a health service devoted exclusively to the comprehensive health care of transsexuals and transvestites. An ethnography was performed with the triangulation of the sources (semi-structured interviews, focus group and participant observation) in a health service specialized in trans-specific care in the Unified Health System (Sistema Único de Saúde - SUS), between December/2017 and July/2018. Twenty-one interviews were conducted, 8 with trans men, 8 with trans women and 5 with family members of trans people attended in this service; 1 focus group with 8 trans men and approximately 100h of participant observation. The results and discussion are presented in 3 thematic categories named (1) Conceptions of Family; (2) Conceptions of Identity and (3) Conceptions of Health. The analysis considered how the diversity of age, income and ethnicity, in each context of trans life, establish differences in the themes under study. The meanings of family, identity and health are interconnected, which could justify the relationships already established in other studies between family and illness of transsexual people. The challenge for health services and professionals is to legitimize these meanings as fundamental to the clinic, health and well-being of the people they aim to care for, in order to achieve comprehensive and equitable health care.

Key Words: Family; Family Relations; Transgender Persons; Health; Public Health; Qualitative Research.

RESUMEN

La transexualidad puede considerarse una experiencia de identidad caracterizada por un conflicto con las normas de género. Estudios han demostrado que la población trans enfrenta tasas de desempleo significativamente altas, discriminación en el ámbito laboral, la falta de vivienda y el acoso laboral. Estas experiencias son vividas con mayor sufrimiento y dificultad cuando se enfrentan junto al rechazo familiar, por lo que es necesario comprender la dinámica de las relaciones familiares de las personas trans y sus familias, en el contexto del cuidado en la salud. El objetivo de esta investigación es comprender las construcciones de significados que surgen de la dinámica de las relaciones familiares a partir de las performances de identidad de las personas transexuales que asisten a un servicio de salud centrado exclusivamente en la atención integral de la salud de los transexuales y travestis. Se realizó una etnografía con triangulación de fuentes de datos (entrevistas semiestructuradas, grupo focal y observación participante) en un servicio de salud especializado en la atención a la salud de la población trans en el Sistema Único de Salud (SUS), entre diciembre/2017 a julio/2018. Se realizaron 21 entrevistas, 8 con hombres trans, 8 con mujeres trans y 5 con familiares de personas trans que asistieron a este servicio; 1 grupo focal con 8 hombres trans y aproximadamente 100 h de observación participante. Los resultados y la discusión se presentan a partir de 3 categorías temáticas llamadas (1) Concepciones de la familia; (2) Concepciones de identidad y (3) Concepciones de salud. El análisis tuvo en cuenta cómo la diversidad de edad, situación socioeconómica y etnia, en cada contexto de vida trans, establece diferencias en los temas de estudio. Los significados de familia, identidad y salud están interconectados, lo que podría justificar las relaciones ya establecidas en otros estudios entre la familia y la enfermedad de las personas transexuales. El desafío para los servicios y profesionales de la salud es legitimar estos significados como fundamentales para la clínica, la salud y el bienestar de las personas a las que desean cuidar, a fin de lograr una atención médica integral y equitativa.